Bem, um novo release do Mistureba Generalizada estará tosco pronto mês que vem. Por essa razão, gostaria de falar sobre alguns pontos interessantes deste não-tão-revolucionário jogo.
Porque Mistureba Generalizada?
Como um assíduo fão do hábito da leitura, acabei entrando em contato com os livros de Douglas Adams, a conhecida série “Guia do Mochileiro das Galáxias”. Num dos livros, é apresentada ao leitor a definição de Mistureba Generalizada, que é a seguinte:
“O Guia do Mochileiro das Galáxias tem muito a dizer sobre a questão de universos paralelos. Muito pouco disto, porém, é compreensível pra qualquer um abaixo de nível de Deus Avançado, e desde que atualmente é consenso que todos os deuses conhecidos vieram à existência uns bons três milhionésimos de segundos depois que o Universo começou (em vez de, como dizem por aí, uma semana antes), eles já têm muito com que se preocupar pra explicar isto, e portanto não estarão disponíveis pra comentar sobre questões de física por agora.
“Um ponto encorajador do Guia tem sobre isto é que a questão toda de universos paralelos é que você não tem a mais remota chance de entendê-los. Você pode depois dizer ‘O quê?’ e ‘Ahn?’ e até mesmo sair zarolho rindo loucamente se quiser sem qualquer medo de parecer um idiota por isso.
“A primeira coisa que devemos saber sobre os universos paralelos, explica o Guia, é que eles não são paralelos.
“Também é importante saber que eles não são, estritamente falando, universos, mas fica mais fácil tentar compreender isso um pouco depois, após compreender que tudo o que você havia compreendido até então não é verdade.
“O motivo pelo qual não são universos é que qualquer universo em particular não chega exatamente a ser uma coisa, mas sim uma maneira de compreender o que é tecnicamente conhecido como MGTC, Mistureba Generalizada de Todas as Coisas. A Mistureba Generalizada de Todas as Coisas também não existe na prática — é apenas a soma total de todas as maneiras diferentes que haveria para compreendê-la, caso existisse uma.
“O motivo pelo qual não são paralelos é o mesmo pelo qual o mar não é paralelo. Não significa nada. Você pode fatiar a Mistureba Generalizada de Todas as Coisas do jeito que quiser e geralmente vai acabar com algo que alguém vai chamar de lar.
“Por favor, sinta-se à vontade para enlouquecer agora.”
Praticamente Inofensiva, Douglas Adams.
Pois é. Podem fazer aquele típico “Ahm… é isso…” com visível tom de decepção.
Porque Jogo de Diversão Estórica? História é chata!
Vamos começar pela diferença entre as palavras “história” e “estória”: história é uma narrativa que faz parte dos fatos ocorridos na vida real, uma obra não ficcional; já estória tem uma conotação de narrativa criada, inventada, sugerida, uma obra de ficção baseada ou não em fatos reais - além de, curiosamente, ser um termo que nunca foi aceito pela norma culta!
Essencialmente, estória é uma palavra classificada como brasileirismo, aportuguesação da palavra inglesa “_story_“, que significa “uma descrição real ou imaginária, de algo que aconteceu ou não, feita com o objetivo de entreter uma platéia”.
História, por outro lado, vêm da palavra grega “historía”, que significa “pesquisa”, “conhecimento advindo da investigação” (“ἱστορία”, em grego antigo).
A ideia de designar meu jogo como “diversão estórica” veio de algo que percebi enquanto o desenvolvia: ele não é um Role Playing Game (RPG) como havia imaginado originalmente.
A maioria dos RPG’s existentes no mercado dizem ser “um jogo de contar estórias”, mas não é isso que se vê na prática, pois há regras para combates em massa, duelos, cavar buracos, etc. mas se há regras para “contar uma história”, elas parecem ficar em segundo plano. Mesmo os “jogos de interpretação de personagens” com regras de como contar estórias, possuem mais regras voltadas à punição de jogadores que não “interpretam” seus personagens “corretamente” - usando para isso padrões obscuros - que regras capazes de efetivamente incentivar a interpretação.
Minha idéia de JDE (“Jogo de Diversão Estórica”) é fornecer ferramentas narrativas adequadas tanto ao ato de contar um estória colaborativa com outros jogadores quanto incentivar uma forma saudável de imersão em jogo.